IDEIAS, PRÁTICAS E POLÍTICAS EM ESTUDOS URBANOS DE GÊNERO: POR UMA EPISTEMOLOGIA DE PESQUISA FEMINISTA
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No contexto em que vivemos, nossos corpos são há séculos classificados com base em hierarquias e diferenças, que obstruem a nossa inserção na sociedade. Não somos um sujeito universal abstrato como proposto pelos modernos, temos muitas interseccionalidades que nos atravessam. Como alerta Federici, “a análise da posição social das mulheres pelo prisma da exploração capitalista do trabalho também revela a continuidade entre a discriminação com base no gênero e a discriminação com base na raça”. Se por um lado algumas de nós conseguimos avançar em espaços e direitos, esse processo de inserção feminina no mercado de trabalho é também permeado pela lógica do capital, que reproduz desigualdades e cria novas formas de exploração. Entre o ter e o existir, pautado sempre pelas responsabilidades de cuidado para com o outro, somos nós as mulheres as mais endividadas e sem acesso a moradias dignas para nós e nossas famílias, privadas de mobilidade social, em subposições predeterminadas, estanques e em um processo contínuo de empobrecimento. A capitalização da vida, com a mercantilização de direitos básicos para exercício da cidadania, como saúde, educação, moradia, cultura, segurança, faz parte do processo de desmantelamento do Estado de bem-estar social. As cidades e os territórios em que vivemos também são objetos de projetos de segregação, deixando às margens e alienando dos espaços públicos as pessoas que não interessam ou não se assemelham aos detentores de poder. Para uma efetiva reparação, é preciso refazer esse arranjo com a participação desses outros, dos renegados, dos corpos atravessados por opressões, das múltiplas experiências de experimentação, dos espaços de vivência e convivência. Como indagou a arquiteta argentina Ana Falú: Se a cidade é “muitas”, qual o papel da mulher nesta cidade? A compreensão histórica das estruturas que moldam as relações socioespaciais das mulheres nos colocou diante de muitas invisibilidades, como a invisibilidade na ocupação do território. Mas somente a partir da análise dos espaços em si ou de como se dá a sua apropriação por determinados grupos sociais, é difícil visualizar sujeitos pertencentes a grupos minoritários e invisibilizados, como as mulheres negras ou trans. Além disso, a escassez de dados e informações sobre a realidade vivenciada pelos distintos perfis de mulheres ainda é uma barreira a ser superada. Pensar essa ocupação e avançar propositivamente rumo a um horizonte verdadeiramente inclusivo, é importante adotar uma nova epistemologia, que parta de uma leitura feminista da cidade. No caso dos estudos urbanos uma ferramenta de compreensão do território e suas relações é o mapeamento. Além disso, conceitos como o da interseccionalidade revelam-se fundamentais no contexto da pesquisa feminista por seu olhar critico e atento para a diversidade das pessoas e realidades. “Como poderemos, então, construir uma teoria feminista adequada ou mesmo diversas teorias, pós-modernas ou não? Onde iremos encontrar conceitos e categorias analíticas livres das deficiências patriarcais? Quais serão os termos apropriados para dar conta do que fica ausente, invisível, emudecido?”. Esses questionamentos, colocados por Sandra Hardin em seu texto A instabilidade das categorias analíticas na teoria feminista, nos fazem refletir sobre a dinâmica do processo e como ela propõe que percebamos que “há dois modos de encarar a situação”, ou pelas lutas políticas ou com a mudança de paradigmas. A presente sessão livre propõe apresentar abordagens multidisciplinares distintas sobre o papel das mulheres na cidade. O primeiro trabalho, de ordem teórica, tem como premissa a investigação contextualizada da evolução das conquistas femininas ao longo da história, inserida nas discussões sobre profissão, projeto e cidade. O segundo trabalho adota uma abordagem interseccional para examinar os padrões espaciais e as manifestações de deslocamento de homens e mulheres em Curitiba. O terceiro estudo propõe um cruzamento de teorias feministas e escuta de mulheres nas propostas de planejamento urbano. O quarto trabalho utiliza a pesquisa-ação se baseia em oficinas temáticas e territoriais com a comunidade, para engajar as mulheres na participação popular do planejamento. O quinto e último, busca práticas profissionais que contribuam para a reimaginar o desenho de cidades mais seguras, diversas e acolhedoras para grupos historicamente vulnerabilizados, como mulheres, crianças, idosos e pessoas não-binárias. There is a cultural construction of female identity, female subjectivity, and female culture that becomes evident when women enter the workforce en masse, occupy traditionally male professions, and when culture and language become feminized. Women enter the public sphere and realms of knowledge, inevitably transforming these fields, reframing issues, raising questions, and radically altering perspectives (RAGO, 1998). In the process of constructing a feminist urban theory, we have sought from the outset to establish new logics of production and thought. As Margareth Rago states, we strive for a cultural construction of femininity with a “tendentially libertarian, emancipatory” mark. Even though Judith Butler, in her essay For a Careful Reading, opposes the necessity of feminist pedagogy, she recognizes that “what is politically immediate is a set of challenges that are historically provisional but no less deserving of engagement for that reason.” She refutes the notion of a philosophical or epistemological definition, asserting instead the need to “evaluate the world politically and actively engage with its problems with the aim of transformation.” In the context in which we live, our bodies have been classified for centuries based on hierarchies and differences that obstruct our integration into society. We are not an abstract universal subject, as proposed by modernity; we embody numerous intersecting identities. As Federici warns, “the analysis of women’s social position through the lens of capitalist labor exploitation also reveals the continuity between gender-based and race-based discrimination.” While some of us have managed to advance in terms of rights and access to spaces, the inclusion of women in the labor market is also shaped by capitalist logic, which reproduces inequalities and creates new forms of exploitation. Between possession and existence, always marked by the responsibilities of caring for others, women are the most indebted, with limited access to adequate housing for themselves and their families. They face restricted social mobility, trapped in predetermined and stagnant roles, enduring a continuous process of impoverishment. The commodification of basic rights necessary for exercising citizenship—such as health, education, housing, culture, and security—is part of the dismantling of the welfare state. The cities and territories where we live are also shaped by segregationist projects, marginalizing and alienating those who do not conform to or resemble the holders of power. Effective reparation requires restructuring this arrangement with the participation of the “others”—the marginalized, those whose bodies are marked by oppression, those who experience diverse lived realities. As the Argentine architect Ana Falú questioned: if the city is “many,” what is the role of women within this city? A historical understanding of the structures that shape women’s socio-spatial relations reveals many invisibilities, such as the invisibility of women in the occupation of territory. However, merely analyzing spaces themselves or how they are appropriated by specific social groups often makes it difficult to identify subjects from marginalized or invisible groups, such as Black or trans women. 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En el proceso de construir una teoría urbana feminista, desde el inicio hemos buscado establecer nuevas lógicas de producción y pensamiento. Como afirma Margareth Rago, aspiramos a una construcción cultural femenina con un sello “tendencialmente libertario, emancipador”. Aunque Judith Butler, en su ensayo Por una lectura cuidadosa, se opone a la necesidad de una pedagogía feminista, reconoce que “lo que es políticamente inmediato es un conjunto de desafíos que son históricamente provisionales, pero que no por ello menos merecedores de compromiso”. Butler rechaza la idea de una definición filosófica o epistemológica, argumentando que es necesario “evaluar el mundo políticamente y comprometernos activamente con sus problemas con el objetivo de la transformación”. En el contexto en el que vivimos, nuestros cuerpos han sido clasificados durante siglos basándose en jerarquías y diferencias que obstruyen nuestra integración en la sociedad. 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Además, conceptos como la interseccionalidad resultan fundamentales en el contexto de la investigación feminista, por su mirada crítica y su atención a la diversidad de las personas y las realidades. “¿Cómo podemos, entonces, construir una teoría feminista adecuada o incluso diversas teorías, posmodernas o no? ¿Dónde encontraremos conceptos y categorías analíticas libres de las deficiencias patriarcales? ¿Cuáles serán los términos apropiados para dar cuenta de lo que queda ausente, invisible, silenciado?”. Estas preguntas, planteadas por Sandra Harding en su ensayo La inestabilidad de las categorías analíticas en la teoría feminista, nos invitan a reflexionar sobre la dinámica del proceso. Harding propone que “hay dos maneras de abordar la situación: a través de las luchas políticas o con el cambio de paradigmas”. Esta sesión libre propone presentar enfoques multidisciplinarios distintos sobre el papel de las mujeres en la ciudad. El primer trabajo, de carácter teórico, tiene como premisa la investigación contextualizada de la evolución de los logros femeninos a lo largo de la historia, enmarcada en las discusiones sobre profesión, proyecto y ciudad. El segundo adopta un enfoque interseccional para examinar los patrones espaciales y las manifestaciones de desplazamiento de hombres y mujeres en Curitiba. El tercer estudio propone un cruce entre teorías feministas y el testimonio de mujeres en las propuestas de planificación urbana. El cuarto trabajo, basado en la investigación-acción, utiliza talleres temáticos y territoriales con la comunidad para involucrar a las mujeres en la participación popular en los procesos de planificación. El quinto y último busca prácticas profesionales que contribuyan a reimaginar el diseño de ciudades más seguras, diversas y acogedoras para grupos históricamente vulnerables, como mujeres, niños, personas mayores y personas no binarias." 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